Defesa de tese de doutorado Belchior Monteiro Lima Neto

Título: Conflito familiar, vida urbana e estigmatização na África Proconsularis: o caso de Apuleio de Madaura (século II d.C.)
Banca Examinadora:
Gilvan Ventura da Silva (Orientador - PPGHIS - UFES)
Sergio Alberto Feldman (Examinador Interno - PPGHIS - UFES)
Leni Ribeiro Leite (Examinador Interno - PPGHIS - UFES)
Norma Musco Mendes (Examinador Externo - UFRJ)
Norberto Luiz Guarinello (Examinador Externo - USP)
Data de defesa: 26/06/2015
Horário: 09:00
Local: Sala de Seminários do IC3
 

Resumo:
Na sociedade romana, o matrimônio era um meio de consolidação de alianças familiares, atendendo, muitas vezes, a conveniências políticas, econômicas e sociais, como no caso do casamento de Apuleio com Emília Pudentila, em Oea. Unindo-se a Apuleio, Pudentila usufruiria da amicitia do autor com personagens importantes da sociedade imperial, abrindo possibilidades de ascensão social para seu filho mais velho, Sicínio Ponciano. O casamento de Apuleio com Pudentila, contudo, representou um novo paradigma de relações político-matrimoniais em Oea, rompendo uma aliança ancestral entre duas das mais importantes famílias locais: os Aemilii e os Sicinii. Como consequência, parte da elite oeaense se opôs à presença de Apuleio na cidade, disseminando boatos que o estigmatizavam como magus e homo extrarius, fato que denotava, em última instância, um processo de degradação da honra do autor perante a opinião pública de Oea. Frente a este cenário, Apuleio foi julgado por crimen magiae diante do tribunal do governador da África Proconsular, instalado na basílica de Sabrata, cidade vizinha de Oea. A despeito do perigo de poder ser punido com a pena capital, Apuleio concebia seu julgamento como uma arena pública de absolvição de sua honra, uma vez que, da basílica de Sabrata, seu discurso de defesa poderia reverberar e influenciar aqueles que o tinham como mago. Para tanto, Apuleio baseou seu discurso numa lógica de construção de identidades, investindo numa retórica de diferenciação. O autor distinguiu-se de seus adversários por intermédio de uma representação excelsa de si, como filósofo platônico possuidor da paideia, ao mesmo tempo que representava os seus acusadores como ignorantes e rústicos; quer dizer, como incapazes de diferenciar filósofos de magos. Esta estratégia apresentou-se bem-sucedida, como demonstra a distinção pública posteriormente gozada por Apuleio em Cartago, onde o autor foi homenageado com a construção de uma estátua e se consagrou como orador público e magistrado. O estigma e a posterior recuperação da honra de Apuleio evidenciam, em nossa percepção, a forma como as diferentes representações podem ser construídas de acordo com o modo como os vários grupos sociais produzem suas distintas interpretações – muitas vezes concorrentes e diferenciadas – do mundo. Em suma, as problemáticas analisadas nesta tese esclarecem os múltiplos processos pelos quais as identidades são diferentemente definidas.

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